Por Rita de Cássia Romeiro Paulino e Ivone Rocha
O compromisso com a Agenda 2030 é muito maior do que o consumo consciente e a valorização dos recursos do planeta. É pensar, do ponto de vista social e antropológico, o que queremos para as futuras gerações, a partir de nós. Ou seja, o que deixaremos como ações e legado. Como os novos habitantes encontrarão o mundo daqui a 30, 50 ou 100 anos é nossa responsabilidade hoje. Sabemos que a coleta seletiva, a redução de gases tóxicos e a economia de água são importantes, mas a preservação do ecossistema ambiental depende do envolvimento de todas as sociedades e comunidades, e envolvem também diversas áreas, como a política, social, econômica e a cultural.
Embora todos saibamos que essas medidas são importantes, a preservação dos nossos ecossistemas envolve um conjunto de fatores e a atenção de todas as áreas relacionadas às comunidades, como a econômica, a política, a social e sobretudo a cultural. A rigor, significa uma quebra de paradigmas culturais. Ações sustentáveis precisam fazer parte do cotidiano das pessoas, de forma que promovam a transformação social. Nesse sentido, a mídia desempenha um papel fundamental, informando sobre problema e consequências, orientando (com o apoio de especialistas) sobre as decisões mais assertivas e apresentando modelos bem sucedidos para serem seguidos ou a serem espelhados.
Foi em 2015 que a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu a Agenda 2030. Trata-se de um documento com 17 objetivos do desenvolvimento sustentável (ODS) e 169 metas diretamente relacionadas, em um compromisso assumido por 193 países membros, entre os quais o Brasil.
A origem do problema
Foi a partir da Revolução Industrial (século XVIII) que essa problemática se instaurou, quando a produção (que passou a ser em série), para atender seus objetivos, teve de se valer de matérias primas não renováveis, ou seja, não houve a preocupação em repor o que seria retirado da Terra. “A natureza foi tratada como subalterna ao homem, servindo-lhe como meios para atingir seus fins maiores inaugurados pela era do capitalismo: os lucros” (CORRÊA, 2006, p. 93, apud CARVALHO, 2020).
Lembra o autor que foi a partir da Segunda Guerra Mundial que se visualizou um possível desenvolvimento e crescimento econômico, voltado também para o bem-estar social, ambiental e político. Entretanto, esse modelo de desenvolvimento em larga escala provocou a explosão do consumo que, ao mesmo tempo em que iam esgotando os recursos naturais, afetava de forma negativa a qualidade de vida da população.
A preocupação com a degradação do meio ambiente se tornou mais presente na década de 1970. Tanto, que o assunto acabou ganhando destaque na Conferência da ONU, de 1972, cujo tema do encontro foi ambiente humano, chamando a atenção para um conceito de desenvolvimento que pudesse contemplar a sustentabilidade (CARVALHO, 2020). Houve, então, a criação de uma comissão, cuja liderança ficou com a norueguesa Gro Harlem Brandtland. E em 1987 foi elaborado o relatório denominado ‘Nosso Futuro Comum’, estabelecendo o ‘desenvolvimento sustentável’. Estabeleceu, portanto, dois conceitos-chave: 1º prioridade aos pobres do mundo; 2º de noção das limitações tanto das tecnologias quanto da organização social, para que o meio ambiente não deixasse de ser atendido em suas carências atuais e do futuro. Além de Brundtland, como presidente, a Comissão Mundial Sobre Meio Ambiente teve como vice-presidente o sudanês Mansour Khalid e o brasileiro Paulo Nogueira Neto, naturalista, professor e político. como um dos 19 membros
São vários os conceitos apresentados no relatório, que também levou o nome de Brundtland, como: Na década de 1990 o Brasil sediou a Conferência da ONU (1992), que ficou conhecida como Eco92, Rio92 e Cúpula da Terra. Foram definidas ações para a Agenda 21, com metas a serem conquistadas em 2021, deixando para trás o conceito de crescimento econômico insustentável para focar em Sustentabilidade. Para isso, houve propostas de leis internacionais, de cooperação e de processos, segundo a ONU (1992), gerando assim um aprimoramento das propostas de ações, não fazendo mais sentido ter uma Agenda 21. Ela foi substituída pelos Objetivos do Desenvolvimento do Milênio (ODM), com oito metas a serem alcançadas até 2015.
Em 1995 a ONU lançou outro documento, denominado ‘An agenda for development’, destacando cinco dimensões para o desenvolvimento ( A primeira era ‘paz como pilar’; a segunda, ‘’a economia como motor do progresso’; a terceira, ‘o ambiente como uma base para a sustentabilidade’; a quarta, ‘Justiça como um pilar da sociedade’; e a quinta, ‘democracia na governança’. Outras conferências foram acontecendo, amadurecendo o tema sustentabilidade e suas relações. Em 1999 houve a de assentamentos humanos, com o olhar para os pequenos países, quando ocorreu o Pacto Global, que tinha à frente o então secretário da ONU, Kofi Annan; houve a Cúpula do Milênio, em 2000 (Nova Iorque); a Rio+10 em Joanesburgo, em 2002; a Jornada Mundial, em 2005 na Alemanha; e a Rio+20 (Rio de Janeiro), em 2012. Nesta última foi criado um outro documento, denominado ‘O Futuro que queremos’, pensando o desenvolvimento sustentável no cenário global. Em 2015, na cidade de Nova Iorque, houve a ‘Cúpula de desenvolvimento sustentável’, por meio da qual foi criada a Agenda 2030, com os 17 ODS e suas 169 metas a serem cumpridas até 2030. No Brasil, foi instituído um grupo de trabalho interministerial para concretizar seus objetivos e metas, envolvendo o Poder Executivo Federal, Estados, municípios, sociedade civil, movimentos sociais, setor privado e academia. A maior novidade da Agenda 2030 foi, sobretudo ao especificar os objetivos do desenvolvimento sustentável, tratar esses objetivos globais no aspecto local, por meio da participação das cidades no início do processo de desenvolvimento sustentável.
ODS contemplados na Agenda 2030
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ODS |
Descrição do objetivo |
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1 – Erradicação da pobreza |
Acabar com a pobreza em todas as suas formas, em todos os lugares |
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2 – Fome zero e agricultura sustentável |
Acabar com a fome, alcançar a segurança alimentar e melhoria da nutrição e promover a agricultura sustentável |
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3 – Saúde e bem-estar |
Assegurar uma vida saudável e promover o bem-estar para todas e todos, em todas as idades |
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4 – Educação de qualidade |
Assegurar a educação inclusiva e equitativa e de qualidade, e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todas e todos |
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5 – Igualdade de gênero |
Alcançar a igualdade de gênero e empoderar todas as mulheres e meninas |
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6 – Água potável e saneamento |
Assegurar a disponibilidade e gestão sustentável da água e saneamento para todas e todos |
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7 – Energia limpa e acessível |
Assegurar o acesso confiável, sustentável, moderno e a preço acessível à energia para todas e todos |
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8 – Trabalho decente e crescimento econômico |
Promover o crescimento econômico sustentado, inclusivo e sustentável, emprego pleno e produtivo e trabalho decente para todas e todos |
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9 – Indústria, inovação e infraestrutura |
Construir infraestruturas resilientes, promover a industrialização inclusiva e sustentável e fomentar a inovação |
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10 – Redução das desigualdades |
Reduzir a desigualdade dentro dos países e entre eles |
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11 – Cidades e comunidades sustentáveis |
Tornar as cidades e os assentamentos humanos inclusivos, seguros, resilientes e sustentáveis |
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12 – Consumo e produção responsáveis |
Assegurar padrões de produção e de consumo sustentáveis |
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13 – Ação contra a mudança global do clima |
Tomar medidas urgentes para combater a mudança climática e seus impactos (* |
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14 – Vida na água |
Conservação e uso sustentável dos oceanos, dos mares e dos recursos marinhos para o desenvolvimento sustentável |
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15 – Vida terrestre |
Proteger, recuperar e promover o uso sustentável dos ecossistemas terrestres, gerir de forma sustentável as florestas, combater a desertificação, deter e reverter a degradação da terra e deter a perda de biodiversidade |
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16 – Paz, justiça e instituições eficazes |
Promover sociedades pacíficas e inclusivas para o desenvolvimento sustentável, proporcionar o acesso à justiça para todos e construir instituições eficazes, responsáveis e inclusivas em todos os níveis |
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17 – Parcerias e meios de implementação |
Fortalecer os meios de implementação e revitalizar a parceria global para o desenvolvimento sustentável |
Fonte: Nações Unidas Brasil – https://brasil.un.org/pt-br/sdgs.
Analisando o processo de ações, o tempo decorrido até aqui, em busca de um desenvolvimento sustentável do planeta, e o prazo para o estabelecimento das metas, entre os países que compõem a Conferência da ONU, faz-nos compreender que mais do que ousadas, as metas estabelecidas para serem concluídas daqui a apenas sete anos dificilmente serão cumpridas. Entretanto, elas precisam avançar nesse horizonte, mesmo que outra ‘agenda’ seja instituída. Esse avanço se caracteriza, principalmente, pela conscientização das sociedades, as quais dependem de informação e de práticas experimentais, para produzir conhecimento, já que “experimentar é apreender sistematizando os dados da realidade” (GOMES, 2009, p. 43). E aí reside a relevância da comunicação, sendo o jornalismo um de seus principais campos, por seu caráter social e de formador de opinião.
Referências:
CARVALHO, Francisco T. A AGENDA 2030 PARA O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DA ONU E SEUS ATORES: o impacto do desenvolvimento sustentável nas relações internacionais. Confluências. Rio de Janeiro: UNIRIO, 2020. Disponível em https://periodicos.uff.br/confluencias/article/view/34665 . Acesso em 18-02-2023.
GOMES, Wilson. JORNALISMO, FATOS E INTERESSES. Ensaios de teoria do jornalismo. Florianópolis-SC: Insular, 2009.
LINDBORG, Moa. Making a Global Framework Local: Challenges and Opportunities in Agenda 2030 Localization. MSc Thesis. Department of Thematic Studies Environmental Change, Linköpings universitet, Linköping, Sweden, 2019.